10.9.07

Estive pensando...

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…sobre a estação do Outono*
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.....A Primavera é linda, graciosa, rica em virtudes que desabrocham ao passar do tempo. É viva e efêmera, sim. Leio textos e poesias que descrevem a sua formosura e encantos. Poetas e românticos que se dedicam em alcançar o néctar de suas flores.
.....Confesso, porém, que pouco encontro sobre o outono. Esforço-me – sem êxito - para lembrar o nome de uma poesia e de um poeta que li, quando mais jovem, em um livro esquecido entre outros na biblioteca da escola. Ele falava sobre o verão e o inverno, sobre o dia de sol e o dia de chuva. “Não têm ambos a sua beleza?”, argumentava o autor. Belíssima poesia que transcende o pensamento comum.
.....Foi para mim uma das melhores das lições. Por que somente o dia de sol é bonito se em um dia nublado podemos contemplar o cinza do céu escuro? Sentir bater em nosso rosto uma brisa gélida que contrasta com o calor do nosso corpo. Ver os galhos das árvores dançarem com a força do vento. Aprendi com esse poeta a notar toda e qualquer beleza que há em todas as situações, em todos os lugares, em qualquer tempo e espaço.
.....Sinto falta do outono, porque pouco encontro sobre ele para ler. E a leitura é uma das minhas mais vivazes paixões. Observo no outono também a sua beleza. A primeira característica são as folhas secas, alaranjadas, diferentes de todas as folhas que compõem as outras estações do ano (gosto de tudo o que é diferente, gosto de tudo o que transgride a apatia humana). E elas, as folhas, caem uma a uma, ou em conjunto, soltam-se das árvores, dançam ao ritmo do vento e caem, suavemente, sobre o chão.
.....O “tom” do dia também é diferente. É resplandecente, como em um dia de verão, mas existe uma diferença que não consigo exprimir em palavras. E o cheiro… sim, um dia de outono também tem o seu cheiro. (Não quer você, caro leitor, que eu tente descrever um cheiro, quer? É impossível, é inefável). Cheiro único de outono, que quando inspiro, me faz sentir um “não sei o quê” de plenitude.
.....Todas as estações (outono, inverno, verão, primavera) são belas, mas, atrevo-me em afirmar que o outono é de todas elas a mais inefável. Não é apenas uma estação, é também um caminho a se seguir, um pendor irresistível. De tão deslumbrada que me percebi, optei por seguir este caminho. E não o faço por acreditar que encontrarei o inefável ao final desta estrada, mas porque sinto a certeza de que o inefável estará presente em cada passo que eu der.
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*Para ler ouvindo River, de Enya.

6 comentários:

Silvia Helena & Fábio Pereira disse...

Cadê? Onde estarão? Sumiram... As minhas palavras para comentar o texto sumiram! Inefável...

Começo a perceber algo diferente [transgressor da apatia humana]neste blog: ele, a princípio, deveria ser um guia, um norte, para que a Srta. Inefável, a autora, encontrasse o Inefável, aquilo do que é impossível se dizer. Mas observo que são os leitores aqueles que têm, a cada atualização, encontrado o Inefável [!].

Nós, os críticos, os apreciadores, os leitores fanáticos por essa dose de lirismo semanal que é este blog, tantas e tantas vezes nos encontramos sem ter o que dizer diante dos textos, diante da poesia, diante da Srta autora.

Eu penso que existe, de fato, poemas mil sobre a Primavera. O que demonstra reconhecimento, merecimento. Por mim, deveriam haver mil, dois mil, cem mil mais poemas sobre o esplendor florido e colorido da Primavera. Mas, ler uma defesa tão poética sobre o Outono, sobre a estação das folhas secas... É de fazer abrir os olhos! Primavera e Outrono, para mim, são complementares, são estações que num entrelaçar de mãos corriqueiro são inspiração indivizível a milhares de poemas, quadros, obras de arte...

Sem mais palavras [Inefável como os textos aqui nos visitam ao fundo]

Resta-me apenas um desejo invencível: ouvir River, da Enya, e ler, reler, reler, reler, reler e reler "...sobre a estação do Outono"

Ut disse...

"A Fábia é linda, graciosa, rica em virtudes que desabrocham ao passar do tempo....."

bj

Menina Caracol disse...

Ah o outono!

Anônimo disse...

Nossa, mas que texto poético!
Lindo!
Impressionante como esse blog trabalha com os nossos sentidos "Sentir bater em nosso rosto uma brisa gélida que contrasta com o calor do nosso corpo"
Que bom encontrar um pouco de sensibilidade neste mundo tão apático!!!!!!!

Anônimo disse...

Fábia, acho que você encontrou o "tempero" que faltava. Lembra-se ?

Continue temperando nossos dias e nossas vidas com suas pitadas de sensibilidade.

Beijos

Ana Ziccardi

Anônimo disse...

Não vou fazer um comentário mas vou lhe mandar um poema de outono!!!

Poema VI
Plabo Neruda

Te recordo como eras no último outono.
Eras a boina cinza e o coração em calma.
Em teus olhos pelejavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água de tua alma.

Apegada a meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam tua voz lenta e em calma.
Figueira de estupor em que minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre minha alma.

Sinto viajar teus olhos e é distante o outono:
boina cinza, voz de pássaro e coração de casa
fazia onde emigram meus profundos anseios
e
caiam meus beijos alegres como brasas.

Céu desde um navio. Campo desde os cerros.
Tua recordação é de luz, de fumaça, de tanque em calma!
Mais além de teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam em tua alma.

(Retirado de: Vinte poemas de amor e uma canção desesperada)

Abraços;
Conde Wladi