17.8.07

Estive pensando...

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...Pode ser simples como respirar



.....Há muito tem-se tentado encontrar o significado da vida. Ouvimos inúmeras histórias sobre a criação da espécie humana, mas nenhuma que nos traga certeza. Mesmo depois de tempos de existência e reflexões, ainda não desvendamos este mistério que é o ar que respiramos. O ar que respiramos… O ar que respiramos? Não estará a vida resumida nesta brisa essencial à nossa sobrevivência? Somos capazes de sobreviver vários dias sem nos alimentarmos, alguns sem consumirmos água, mas resistimos apenas alguns minutos se prendemos a respiração.
.....“Provocando contrações no útero, em qualquer idade gestacional, o medicamento não atua sobre o próprio feto, apenas provoca a sua expulsão”. Assim é descrito o efeito do Citotec, um dos medicamentos mais utilizados para fins de aborto. Desenvolvido, inicialmente, para tratar úlceras, essa droga, que pode ser encontrada por trezentos reais até mesmo em sites na Internet, provoca contrações de parto para que o feto seja expelido. Sendo assim, o feto não morre por ter sido agredido, mas porque, se ele tem menos de seis meses e ainda não tendo condições de inalar o ar, ao ser expulso, morre por asfixia. Exatamente como ocorreria com uma pessoa que fosse estrangulada.
.....A palavra aborto tem origem do latim ab – ortus, que significa “privação do nascimento”. Essas discussões que temos assistido em nossos tempos através dos meios de comunicação, nos fazem refletir se temos ou não o direito de privar alguém do nascimento.
.....A partir de qual momento o feto passa a ser conceituado como uma vida? E esse conceito, é estipulado por quem? Por nós? Por Deus? Pela ciência? Pesquisas comprovaram que, já com sete semanas de formação, é possível o feto sentir dor. Nos casos de falha do aborto químico (provocado por medicamento) é necessária a aspiração do útero para completar a interrupção da gravidez, isso quando não é inserido um aparelho cirúrgico na vagina para cortar o feto em pedaços e retirá-los um a um de dentro do útero. Assim, simplesmente, como se fosse um boneco de plástico.
.....Se nas primeiras semanas o coração do feto já está formado e, após o sétimo mês, ele já é capaz de sentir dor, como seremos capazes de acreditar que ele só será humano a partir do momento que tiver consciência de si mesmo? É um erro primário acreditar que a vida se inicia apenas após o parto. Ainda na barriga, a criança já ouve, já “percebe” a mãe. Já sente dor.
.....Quem lembra que a Bíblia ensina que não temos o direito de tirar a vida de um próximo? Essa é a Lei de Deus. Ou até analisando as leis dos homens, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, vemos que todo indivíduo tem direito à vida e à liberdade. Há quem diga: “Ok, o feto tem direito à vida, mas e a liberdade de escolher se se quer ter um filho ou não?”. É claro que essa liberdade existe, e ela deve acontecer na prevenção. Com tantos métodos contraceptivos que podemos encontrar hoje em dia na farmácia mais próxima de casa, não há desculpas (a não ser em casos extremos, como estupro, por exemplo).
.....Segundo o Código Penal Brasileiro, o aborto é crime contra a vida, salvo em dois casos: quando não há outro meio para salvar a vida da mãe e quando a gravidez resulta de estupro. Em 1992, foi ratificada a Convenção Americana de Direitos Humanos, dispondo em seu artigo 4º que o direito à vida deve ser protegido desde a concepção.
.....Espero, sinceramente, que essas leis continuem inalteradas e que, um dia, a humanidade possa ter evoluído a ponto de compreender que a vida não é tão complexa e que não exige muito além desse simples ar que respiramos, e que não querer dividi-lo é pura crueldade, egoísmo e covardia.
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*Auguste Rodin, escultor de Eve, pretendia originalmente uma versão maior para colocar ao lado de sua obra A Porta do Inferno, juntamente com uma escultura de Adão, simbolizando a causa dos sofrimentos da humanidade. A modelo que se usou para a escultura de Eva, uma graciosa e atlética italiana, adicionou naturalidade à obra, grávida, exigia de Rodin, semana a semana, uma constante mudança no formato do seu corpo.

Um comentário:

Silvia Helena & Fábio Pereira disse...

Texto excelente e, por causa da situação do país, importante.

Legalizar o aborto é ao mesmo tempo insanidade e um atestado de incopetência governamental. Com a liberação de clínicas abortivas, o Estado (deveria ser com "E" minúsculo) brasileiro assume que não sabe como conceder uma eficiente educação de contracepção e planejamento familiar à população.

Sobre o debate de quando começa a vida, fica um pequeno registro: realmente é um mistério o momento em que a vida começa no feto (fica a curiosidade: quando é que Deus sopra a vida naquele ser que ainda está por nascer?). Seja quando for, interromper o processo depois que óvulo e espermatozóize já fizeram sua parte é o mesmo que abandonar uma semente dentro de uma gaveta. A semente fora do sufoco da terra não tem vida propriamente dita, mas tem uma vida em potencial, dentro dela há um sopro querendo ser vento forte.

O feto, igualmente, é uma semente, uma vida em potencial e não pode ser morto, não pode ter seu curso de vida interrompido.

Aliás, quem decide sobre a vida do feto? A mãe? Por que só a mãe? O pai? Por que só o pai? E se a mãe quiser abortar e o pai não concordar? Quem decide? A mulher? Só a mulher? Penso que decisão criminosa de abortar não deve ser tratada como apenas de responsabilidade mulher.

E, para concluir: no Brasil, o aborto já é legitimado. Como diz o excelente texto de Fábia Zuanetti, o aborto já é legalizado em casos de estupro ou de risco de morte para a mãe. Se bem que há mães que não titubeariam: arriscariam a prórpia vida, na esperança de que o filhinho que cresce na barriga soberviva...

PS: falta lei para discutir o aborto em caso de crianças anencéfalas. Alô, ministro Temporão (da Saúde), vamos ver logo isso, aí. Por favor.