3.1.08

Escrito em outra estação

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Agressivo sem ser destrutivo



..É como a cor vermelha.
..É agressivo sem ser destrutivo.
..É penetrante.
..É muito forte e intenso.
..É perspicaz, capaz de perceber as coisas mais sutis.
..É uma efervescência de sentimentos. (Sentimentos? Às vezes, podem ser apenas emoções).
..É emocional.
..É físico.
..É vivaz.
..É enérgico.
..É indizível.
..É sutil.
..É engenhoso.
..É espirituoso.
..É como um olhar sagaz.
..É como um discurso argucioso.
..É forte.
..É denso.
..É fora do comum.
..É complexo.
..É digno de grande admiração.

..E é impossível de se explicar, porque a descrição nunca corresponderia à verdadeira expressão da realidade.

Pensamentos Soltos

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“Uma história como a minha nunca deveria ser contada, pois o meu mundo é tão proibido quanto frágil. Sem seus mistérios ele não sobrevive”.

“Descobri que minha mãe estava doente quando papai devolveu os peixes ao mar. Naquela noite, passamos fome. ‘Para entender o vazio’, ele nos disse”.

“Minha mãe dizia que minha irmã era como a madeira. Tão enraizada a terra como uma cerejeira. Mas que eu era como a água. A água abre caminho, mesmo através da rocha. E diante de algum obstáculo, ela encontra outro rumo”.

Do filme Memórias de Uma Gueixa.

Perspectiva

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.....Contraste
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.....Paradoxo
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Estive pensando...

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A escritora que não ensina a escrever
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.....O texto A TV que não ensina a morrer*, publicado na edição de agosto de 2007 da revista Caros Amigos, foi escrito por Marilene Felinto. Embora eu ria ao ver que ela insiste em afirmar que é escritora, ainda me consola ver que, no final da página, ela não assina como jornalista.
....O raciocínio dela começa com um misticismo absurdo. “Porque a droga da TV – do jornal e da revista – não aproveitou a desgraça com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas (…), a fatalidade, a impotência humana sobre o tempo e o mistério, para tratar a efemeridade da vida? (…) Porque (…) não aproveitou para lembrar ao espectador que amanhã morre-se? A hora era de filosofia, de meditação, não de politicagem oportunista, não de espetacularização da dor alheia (…)?”

.....Ora, convenhamos. Se por um lado há a exploração do fato, as inúmeras repetições das imagens do ocorrido e certo sensacionalismo, por outro, vejo neste texto um pedido de conformismo, passividade. E eu diria até, uma falta de respeito com os familiares das vítimas. Este acidente nada teve de natural, não estava escrito nas estrelas que aconteceria, os passageiros presentes naquele vôo não estavam predestinados a morrerem. O fato ocorreu por falta de responsabilidade das autoridades, por incompetência daqueles que deveriam estar gerenciando o aeroporto de forma adequada, por falta de supervisão dos responsáveis pela manutenção da pista.
.....Alguém precisa dizer a Marilene que é da natureza humana nascer, crescer, ao longo dos anos ver as células envelhecerem, a pele enrugar. O natural do ser humano é envelhecer e, aí sim, morrer. Toda morte ocorrida antes deste tempo é não-natural, é ocasionada por alguma intervenção humana. Como, obviamente, ocorreu no caso do acidente da TAM.
.....Também é um absurdo ela, sendo escritora e não jornalista, cobrar da mídia uma postura que apenas ela considera a adequada. Quem tem liberdade para escrever o que quer e como quer, são os escritores – como ela. O jornalismo segue regras, um parâmetro, não possue uma liberdade sem limites como os escritores. Como os principais veículos de comunicação, tendo essa responsabilidade, não iriam apontar os erros do governo, das autoridades, da pista sem groove ou da falha mecânica do avião?
.....Como pode ela afirmar que “bastava a TV ter lembrado aos telespectadores que é preciso lembrar-se que o amanhã não existe”? Alguém me explica como é que o amanhã não existe se já tivemos tantos amanhãs depois do acidente da TAM? Se ela quer filosofia, misticismo, debates sobre o tempo, cobre dos filósofos, de líderes espirituais… A mídia tem a obrigação, apenas, de relatar fatos, apontar os culpados e explicar as conseqüências.

.....Penso que Marilene Felinto deve sofrer de algum conflito interno. Na última parte do texto, que é dividido em três, ela afirma não se interessar mais em publicação de livros (se não, então porque continua a fazê-lo?), que escreve apenas para si mesma (se isto é verdade, por que não engaveta os seus textos ao invés de publicá-los na Caros Amigos? Nenhum escritor escreve apenas para si mesmo. Eu não escrevo apenas para mim mesma) e o que deseja é o esquecimento (mais uma vez, deixe de publicar, ou então, use um pseudônimo). Tudo contraditório ao que ela escreve na edição de janeiro da revista, em que afirma ser feliz por ter deixado o seu quintal sombrio em Pernambuco para ir para São Paulo fazer o que ela mais gosta e o que menos faz bem – escrever.

.....É lamentável ver um texto deste publicado em uma revista. É lamentável ver que foi aceito pela Caros Amigos. Mas vamos procurar um aspecto bom nesta história toda. Ao menos, temos uma referência de que tipo de escritor não devemos seguir exemplo. Definitivamente, Marilene Felinto não ensina a escrever.




*Para ler o texto de Marilene Felinto, clique na imagem acima.