22.1.08

Ramerrão*

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Acordou.
Leu o jornal. Na verdade, folheou.
Foi para o trabalho. Em cima da hora.
Almoçou. Não se lembra o quê.
Foi além do expediente.
Chegou na faculdade. Atrasado.
Estudou. Pouco se lembra o quê.
Voltou para casa.
Assistiu ao reality show do momento.
Tomou banho.
Jantou uma sobra de ontem.
Dormiu. A luz ficou acesa.
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E cada momento da vida vai passando como se tivesse somente um segundo.
...
***


*Este texto faz parte de um projeto "ainda sem nome", que consiste na elaboração de textos originados de temas sugeridos por uma mediadora. Cada participante escolhe um tema e seu texto, depois de postado no blog, recebe uma crítica de outro participante.
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O texto Ramerrão recebeu a crítica de Vinicius Peixoto. Confira logo abaixo:

Diário de Menina

..."Não conheço a Fábia. Nunca a vi passar nos corredores da faculdade. Nunca tive a oportunidade de ler em seu olhar se realmente busca o inefável. Para criticar o último texto dela, preciso primeiro falar a respeito do blog como um todo.
...Quando era adolescente, tinha uma curiosidade enorme em saber o que havia dentro dos diários que as meninas escreviam. Queria conhecer todos os segredos que eram colocados ali. Não imaginava, na minha ingenuidade de hormônios pululantes, que isso poderia ser uma invasão de privacidade imensa. Cresci e não consegui realizar esse desejo.
...Estou lembrando isso porque ao entrar pela primeira vez no blog da Srta. Inefável, me senti dentro de um diário de menina. A Fábia escreve com o descompromisso de menina que confessa coisas a uma folha de papel colorida. Daquelas em que se pregam fotos de momentos marcantes e adesivos brilhantes. Mas não é fácil de ver isso. Perceber o blog assim exige concentração e amor pela leitura.
...Dentro de cada pensamento solto, cada poema, cada letra de música, existe um fio de meninice, uma doçura... Como dizer? Inefável!
...Valendo-me dessa premissa, minha crítica ao texto “Ramerrão” será curta e direta.
Amante de leitura que sou, imaginei chegar no blog da Fábia e encontrar um belo texto, extenso e cheio de emoção, com detalhes vivos e emocionantes. Quando vi um pequeno bloco de palavras, me decepcionei. Esperava me deparar com um tolho de reflexões e a única coisa que vi foram 10, talvez 13 linhas, em forma de poema.
...Droga! - pensei eu. Respirei fundo e me propus a ler sem preconceitos. E, no final das contas, tive uma grata surpresa!
...“Ramerrão” narra, em sua genialidade, o dia-a-dia que passa, e passa, e passa enquanto a nossa própria vida passa. Como a própria autora diz: “Cada momento da vida vai passando como se tivesse somente um segundo.”
...A velocidade da leitura e a forma da construção trazem exatamente o sentido de que só paramos para pensar na vida quando temos uma última oportunidade, um último segundo, sem imaginarmos que o que fica para trás é uma história, um filme inacabável que acontece sem que percebamos. E Fábia soube dizer em uma dúzia de linhas!
...O texto é fantástico e o diário da menina Fábia é, sim, absolutamente inefável!"

Vinicius Peixoto é estudante de jornalismo e possui uma sensibilidade que raro se encontra em jovens escritores. É autor do blog http://tresdedosdeprosa.blogspot.com/. Vale a pena acessar.