8.10.08

Estive pensando...

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... No Jornalismo e nos fundamentos da Ética
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.....Nos primeiros anos da existência humana, acreditava-se que tudo e todos eram parte de um divino. Os seres humanos, os animais e a natureza eram sagrados. Toda e qualquer ação tinha como objetivo manter a harmonia. Cada um dos elementos que compunham este divino cumpria a sua função compreendendo que todos possuíam a mesma importância e o mesmo valor.
.....Com o passar do tempo, criou-se a idéia de um deus distante, que não habita a terra e não tem pacto direto com os seus seres. Deus estava longe, sentado no seu trono imponente, preocupado demais com assuntos tão inimagináveis que se tornava também impossível de se imaginar que ele pudesse prestar alguma atenção nos meros mortais. O ser humano se viu, assim, livre para usufruir de todos os recursos e matérias-primas que estavam bem ali, debaixo dos seus pés. Já não era proibido dominar a natureza. Sendo deus ausente, todos já não eram mais sagrados, muito menos faziam parte de um todo. O homem era superior e dono de si. Feito a imagem e semelhança de um deus e, por isso, poderoso.
.....Mais alguns sóis e algumas luas são vistas e temos um universo sem um criador. Não há um deus, apenas uma referência, o dinheiro. E esta referência, diferentemente de um deus, não precisa de parâmetros nem leis para ser alcançada.
.....Encontramos nesta fase um ser humano fragmentado. Ele já não é um todo, não é um ser que possui uma história com começo, meio e fim. Ele não sabe quais são as suas origens e não sabe que caminho encontrará para seguir. Este ser possui apenas um tempo: o momento presente. E este único momento “possível” se tornou justificativa para que as razões individuais se sobreponham às razões coletivas. Toda e qualquer ação é justificada para que seja possível a busca da felicidade, mesmo que esta, na maioria das vezes, seja momentânea.
.....Perdeu-se o valor da família, dos laços afetivos, do conceito de sagrado. O sentimento de individualismo aflora cada vez mais abafando os sentimentos de altruísmo e solidariedade. A competitividade e a ânsia para se obter um bem próprio são maiores do que a vontade de se conquistar um bem para o coletivo. Pierre Legendre exemplifica bem como isso funciona com o que chama de “self-service normativo”, onde todos podem escolher os seus valores em detrimento dos valores do coletivo.
.....Edgar Morin, em seu livro Método 6: ética, propõe que se busque os fundamentos da ética e não falsos valores que surgem apenas para cobrir o vazio. É preciso visar o bem da comunidade e que prevaleça o zelo pela espécie. É preciso inverter as atitudes desta sociedade capitalista.
.....Uma das ferramentas possíveis de serem utilizadas é o jornalismo, porque ele, em sua essência, já é social e comunitário. O problema está no jornalismo que, em sua grande parte, cedeu aos interesses de grandes corporações em detrimento da causa pública.
.....Eugênio Bucci, em seu livro Sobre Ética e Imprensa, diz que ética é saber escolher entre “o bem” e “o bem” (ou entre “o mal” e “o mal”), levando em conta o interesse da sociedade. O jornalista precisa, seja nas universidades ou nas redações, ser constantemente estimulado e treinado a exercer o seu ofício com olhar comunitário. Assim, ele será exemplo de conduta e disseminador de um ideário que (re)construirá fundamentos verdadeiramente éticos.

22.1.08

Ramerrão*

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Acordou.
Leu o jornal. Na verdade, folheou.
Foi para o trabalho. Em cima da hora.
Almoçou. Não se lembra o quê.
Foi além do expediente.
Chegou na faculdade. Atrasado.
Estudou. Pouco se lembra o quê.
Voltou para casa.
Assistiu ao reality show do momento.
Tomou banho.
Jantou uma sobra de ontem.
Dormiu. A luz ficou acesa.
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E cada momento da vida vai passando como se tivesse somente um segundo.
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*Este texto faz parte de um projeto "ainda sem nome", que consiste na elaboração de textos originados de temas sugeridos por uma mediadora. Cada participante escolhe um tema e seu texto, depois de postado no blog, recebe uma crítica de outro participante.
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O texto Ramerrão recebeu a crítica de Vinicius Peixoto. Confira logo abaixo:

Diário de Menina

..."Não conheço a Fábia. Nunca a vi passar nos corredores da faculdade. Nunca tive a oportunidade de ler em seu olhar se realmente busca o inefável. Para criticar o último texto dela, preciso primeiro falar a respeito do blog como um todo.
...Quando era adolescente, tinha uma curiosidade enorme em saber o que havia dentro dos diários que as meninas escreviam. Queria conhecer todos os segredos que eram colocados ali. Não imaginava, na minha ingenuidade de hormônios pululantes, que isso poderia ser uma invasão de privacidade imensa. Cresci e não consegui realizar esse desejo.
...Estou lembrando isso porque ao entrar pela primeira vez no blog da Srta. Inefável, me senti dentro de um diário de menina. A Fábia escreve com o descompromisso de menina que confessa coisas a uma folha de papel colorida. Daquelas em que se pregam fotos de momentos marcantes e adesivos brilhantes. Mas não é fácil de ver isso. Perceber o blog assim exige concentração e amor pela leitura.
...Dentro de cada pensamento solto, cada poema, cada letra de música, existe um fio de meninice, uma doçura... Como dizer? Inefável!
...Valendo-me dessa premissa, minha crítica ao texto “Ramerrão” será curta e direta.
Amante de leitura que sou, imaginei chegar no blog da Fábia e encontrar um belo texto, extenso e cheio de emoção, com detalhes vivos e emocionantes. Quando vi um pequeno bloco de palavras, me decepcionei. Esperava me deparar com um tolho de reflexões e a única coisa que vi foram 10, talvez 13 linhas, em forma de poema.
...Droga! - pensei eu. Respirei fundo e me propus a ler sem preconceitos. E, no final das contas, tive uma grata surpresa!
...“Ramerrão” narra, em sua genialidade, o dia-a-dia que passa, e passa, e passa enquanto a nossa própria vida passa. Como a própria autora diz: “Cada momento da vida vai passando como se tivesse somente um segundo.”
...A velocidade da leitura e a forma da construção trazem exatamente o sentido de que só paramos para pensar na vida quando temos uma última oportunidade, um último segundo, sem imaginarmos que o que fica para trás é uma história, um filme inacabável que acontece sem que percebamos. E Fábia soube dizer em uma dúzia de linhas!
...O texto é fantástico e o diário da menina Fábia é, sim, absolutamente inefável!"

Vinicius Peixoto é estudante de jornalismo e possui uma sensibilidade que raro se encontra em jovens escritores. É autor do blog http://tresdedosdeprosa.blogspot.com/. Vale a pena acessar.

14.1.08

Promessa de Ano Novo*

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.....Ela estava em seu quarto, sentada na beira da cama, olhando pela janela. Lembrava das comemorações de final de ano. Ceia de Natal em casa, almoço na casa dos avós, muitas risadas durante o réveillon… Listava também, em sua mente, metas para 2008. Em outro momento, passaria tudo para o papel, juntamente com o planejamento, o step by step para realizar cada objetivo. “A vida passa muito rápido”, pensou, “está mais do que na hora de cumprir minhas promessas e realizar os meus desejos”.
.....Sorriu, satisfeita, como se possuísse poderes imensuráveis para realizar todo o “impossível”. Imaginou-se então, naquele mesmo local, apreciando o formato das mesmas nuvens, no início de 2009. “Estarei eu elaborando uma nova lista? Muito provável que sim…”
.....Começou a analisar, então, o dia-a-dia das pessoas. Notou que não só nas passagens de anos se fazem promessas e listas e mais listas… mas também todos os dias. “E quando eu realizar tudo o que está em minha lista, qual será o passo seguinte? Elaborar uma nova lista…”. Respondeu a si mesma.
.....Neste momento, ouviu cantos de passarinhos e começou a imaginar como seria a vida dessas pequenas criaturas. Sempre alegres e talentosas, cantam todos os dias, a qualquer horário. Felizes, não porque realizam, conquistam… mas simplesmente porque vivem.
.....Ficou imaginando, então, quanto tempo de sua vida concentrou suas energias apenas em metas, objetivos. O seu conceito de felicidade estava sempre no futuro, sempre na maçã no alto da árvore que desejava tanto alcançar. Imaginava que só estaria feliz quando estivesse com essa maçã nas mãos. Porém, o ano novo transformara algo dentro dela. Notou como sentiu-se plena ao estar na companhia de seus familiares, ao ler seu livro preferido… Não se sentia satisfeita apenas ao terminar a leitura. Sentia-se bem durante todo o processo de leitura do livro.
.....“Talvez o ser humano foque no item errado”, pensou consigo mesma. Chegara à conclusão que, melhor que usufruir de tudo aquilo que se conquistou, era o processo de conquista. O ato de expandir os horizontes, dar passos mais largos, voar mais alto, sentir que se está ficando mais forte… “Afinal, não é isso que o ser humano leva para outras vidas?”, pensou, “A experiência, o aprendizado, a maturidade…” Decidiu, então, que a maior e mais importante das suas promessas seria a de estar atenta a cada milésimo de segundo de sua vida, na confiança de que tudo daria certo, sem deixar de sentir a alegria de cada momento.
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*Este texto faz parte de um projeto "ainda sem nome", que consiste na elaboração de textos originados de temas sugeridos por uma mediadora. Cada participante escolhe um tema e seu texto, depois de postado no blog, recebe uma crítica de outro participante.

O texto Promessa de Ano Novo recebeu a crítica de Marco Aurélio. Leia logo abaixo:

"Eu sou um cínico. Sei que é estranho começar uma crítica assim; mostra, no mínimo, grande egocentrismo por parte do crítico. É isso também, mas não só: preciso deixar claro meu cinismo constante para explicar logo de cara por que não gostei do texto "Promessa de Ano Novo", de autoria da colega Fábia Zuanetti, ou Senhorita Inefável. Se ainda me restasse alguma fé na humanidade, talvez fosse capaz de apreciar o texto. Acho, no entanto, que a humanidade encaminha-se para o buraco, e já vai tarde. Sendo assim, o texto me pareceu apenas um pastiche de auto-ajuda, e só me fez sorrir. Um sorriso torto, cínico, é claro.

Se o cinismo não permite que eu analise a mensagem do texto de forma equilibrada, atenho-me a detalhes mais técnicos. Para começar, está escrito corretamente. Exceção feita ao estrangeirismo desnecessário do primeiro parágrafo ("step by step"; o que há de errado com "passo a passo"?) e ao famigerado e inexistente verbo "focar" do final, o texto é bem escrito.

De resto, a autora não parece à vontade. Isso seria compreensível, tratando-se de um texto-tarefa, cujo objetivo é ser analisado por pessoas desconhecidas, talvez até um crítico cínico e desalmado (que deus nos livre). Mas estudamos para ser jornalistas, e a pressão desse leitor invisível e cruel é uma constante na profissão. Enfim, é mera suposição de minha parte.

Outro aspecto que me incomoda é a presença da autora no texto. Assim como um bom árbitro de futebol é aquele cuja presença não é notada no campo, o bom escritor é aquele que não se deixa ver naquilo que escreve. Ver o rosto do manipulador acaba com a graça de qualquer apresentação de marionetes. Principalmente na falta de fluidez do texto, nos saltos de pensamento da narradora, nota-se a autora mexendo as cordinhas, manipulando. A personagem não vive, é um mero fantoche.

O que vejo é uma pessoa com talento, mas que precisa de um pouco mais de sabor, de tempero em seu texto. O negócio é ler e reler livros de autores mortos e escrever todos os dias. Fiar-se demais na inspiração não dá resultados, é preciso estar disposto a transpirar também.
"

Marco Aurélio é estudante de jornalismo, cínico e egocêntrico (mas acredito não ser uma má pessoa), cético e autor do blog http://www.jesusmechicoteia.com.br/.

3.1.08

Escrito em outra estação

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Agressivo sem ser destrutivo



..É como a cor vermelha.
..É agressivo sem ser destrutivo.
..É penetrante.
..É muito forte e intenso.
..É perspicaz, capaz de perceber as coisas mais sutis.
..É uma efervescência de sentimentos. (Sentimentos? Às vezes, podem ser apenas emoções).
..É emocional.
..É físico.
..É vivaz.
..É enérgico.
..É indizível.
..É sutil.
..É engenhoso.
..É espirituoso.
..É como um olhar sagaz.
..É como um discurso argucioso.
..É forte.
..É denso.
..É fora do comum.
..É complexo.
..É digno de grande admiração.

..E é impossível de se explicar, porque a descrição nunca corresponderia à verdadeira expressão da realidade.

Pensamentos Soltos

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“Uma história como a minha nunca deveria ser contada, pois o meu mundo é tão proibido quanto frágil. Sem seus mistérios ele não sobrevive”.

“Descobri que minha mãe estava doente quando papai devolveu os peixes ao mar. Naquela noite, passamos fome. ‘Para entender o vazio’, ele nos disse”.

“Minha mãe dizia que minha irmã era como a madeira. Tão enraizada a terra como uma cerejeira. Mas que eu era como a água. A água abre caminho, mesmo através da rocha. E diante de algum obstáculo, ela encontra outro rumo”.

Do filme Memórias de Uma Gueixa.

Perspectiva

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.....Contraste
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.....Paradoxo
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Estive pensando...

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A escritora que não ensina a escrever
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.....O texto A TV que não ensina a morrer*, publicado na edição de agosto de 2007 da revista Caros Amigos, foi escrito por Marilene Felinto. Embora eu ria ao ver que ela insiste em afirmar que é escritora, ainda me consola ver que, no final da página, ela não assina como jornalista.
....O raciocínio dela começa com um misticismo absurdo. “Porque a droga da TV – do jornal e da revista – não aproveitou a desgraça com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas (…), a fatalidade, a impotência humana sobre o tempo e o mistério, para tratar a efemeridade da vida? (…) Porque (…) não aproveitou para lembrar ao espectador que amanhã morre-se? A hora era de filosofia, de meditação, não de politicagem oportunista, não de espetacularização da dor alheia (…)?”

.....Ora, convenhamos. Se por um lado há a exploração do fato, as inúmeras repetições das imagens do ocorrido e certo sensacionalismo, por outro, vejo neste texto um pedido de conformismo, passividade. E eu diria até, uma falta de respeito com os familiares das vítimas. Este acidente nada teve de natural, não estava escrito nas estrelas que aconteceria, os passageiros presentes naquele vôo não estavam predestinados a morrerem. O fato ocorreu por falta de responsabilidade das autoridades, por incompetência daqueles que deveriam estar gerenciando o aeroporto de forma adequada, por falta de supervisão dos responsáveis pela manutenção da pista.
.....Alguém precisa dizer a Marilene que é da natureza humana nascer, crescer, ao longo dos anos ver as células envelhecerem, a pele enrugar. O natural do ser humano é envelhecer e, aí sim, morrer. Toda morte ocorrida antes deste tempo é não-natural, é ocasionada por alguma intervenção humana. Como, obviamente, ocorreu no caso do acidente da TAM.
.....Também é um absurdo ela, sendo escritora e não jornalista, cobrar da mídia uma postura que apenas ela considera a adequada. Quem tem liberdade para escrever o que quer e como quer, são os escritores – como ela. O jornalismo segue regras, um parâmetro, não possue uma liberdade sem limites como os escritores. Como os principais veículos de comunicação, tendo essa responsabilidade, não iriam apontar os erros do governo, das autoridades, da pista sem groove ou da falha mecânica do avião?
.....Como pode ela afirmar que “bastava a TV ter lembrado aos telespectadores que é preciso lembrar-se que o amanhã não existe”? Alguém me explica como é que o amanhã não existe se já tivemos tantos amanhãs depois do acidente da TAM? Se ela quer filosofia, misticismo, debates sobre o tempo, cobre dos filósofos, de líderes espirituais… A mídia tem a obrigação, apenas, de relatar fatos, apontar os culpados e explicar as conseqüências.

.....Penso que Marilene Felinto deve sofrer de algum conflito interno. Na última parte do texto, que é dividido em três, ela afirma não se interessar mais em publicação de livros (se não, então porque continua a fazê-lo?), que escreve apenas para si mesma (se isto é verdade, por que não engaveta os seus textos ao invés de publicá-los na Caros Amigos? Nenhum escritor escreve apenas para si mesmo. Eu não escrevo apenas para mim mesma) e o que deseja é o esquecimento (mais uma vez, deixe de publicar, ou então, use um pseudônimo). Tudo contraditório ao que ela escreve na edição de janeiro da revista, em que afirma ser feliz por ter deixado o seu quintal sombrio em Pernambuco para ir para São Paulo fazer o que ela mais gosta e o que menos faz bem – escrever.

.....É lamentável ver um texto deste publicado em uma revista. É lamentável ver que foi aceito pela Caros Amigos. Mas vamos procurar um aspecto bom nesta história toda. Ao menos, temos uma referência de que tipo de escritor não devemos seguir exemplo. Definitivamente, Marilene Felinto não ensina a escrever.




*Para ler o texto de Marilene Felinto, clique na imagem acima.