12.7.07

Estive pensando...

...sobre as pessoas



.....Estive observando, analisando, refletindo e me surpreendendo com as pessoas. O comportamento humano sempre foi algo que muito me chamou a atenção. Mesmo assim, ainda prefiro prestar mais atenção nos livros, nas artes, na música… Mas tudo isso não existiria sem as benditas pessoas. O que é um livro senão obra escrita por uma pessoa? O que são os personagens senão pessoas (fictícias ou reais)? O que é uma pintura senão a representação da visão ou do sentimento de um artista? A obra A Porta do Inferno, de Rodin, seria a porta do inferno sem Rodin? Ou, algo mais belo, a escultura O Beijo seria “o beijo” sem a imaginação e o brilhante talento deste artista? Dificilmente… Ainda pior! Não existiria a Primavera! Já pensou um mundo sem primavera? !
.....Enfim, vi-me sem saída. Preciso continuar observando com curiosidade as pessoas. Aliás, observo tudo. O cenário, a situação, os coadjuvantes, até suas sombras. Assim como o excelentíssimo texto de José de Alencar nas primeiras páginas da obra O Sertanejo, assim sou eu observando o mundo. Como se fosse uma câmera, observo as estrelas, o universo, o planeta Terra, então, noto o contorno do continente sul americano, faço um “zoom” para observar melhor este nosso país chamado Brasil. Aproximo-me de São Paulo, e continuo, até alcançar o lugar onde estou. Pode ser aqui, sentada, na frente do computador. Ou na empresa onde trabalho. Ou em um parque, onde posso sempre manter as árvores ou o pôr-do-sol como cenário de fundo (e existe outro melhor para se enquadrar?). E finalmente, fixo-me na pessoa com quem estou conversando, ou que está no mesmo ambiente na qual me encontro, e percebo, quando olho bem no fundo dos olhos dela, que há um outro universo que eu desconheço. Um universo infinito e indecifrável. E me dou conta que em cada pessoa em que fixo o meu olhar há um universo escondido, disposto - ou não - a ser desvendado.
.....Encontro-me, então, irritada. Frustrada. Incapaz. Impossibilitada de mergulhar nos olhos destas pessoas e nadar por cada cantinho do seu interior. A alma humana (entende-se aqui, mente) é algo fascinante! Rica em detalhes. (Como me apego a detalhes! São eles que formam o conjunto final, como também, são eles belíssimos por si só!). Queria eu entender o porquê de certas atitudes, comportamento, reações diversas perante cada situação. Eu queria entender como uma pessoa consegue agir tão espontaneamente sem medo de errar ou de falar alguma bobagem, enquanto outras dissimulam, fingem algo que não são, enganam… E, mais do que isso, gostaria de entender porque determinadas, para não dizer muitas, pessoas desacreditam daquelas que sorriem livremente simplesmente liberando a sua essência, e apóiam aquelas que escondem a sua verdadeira personalidade e influenciam quase sempre por motivos interesseiros…
.....A minha ânsia para compreender isto se torna a minha tristeza. E a minha incapacidade, uma frustração. Talvez eu devesse, tomando como exemplo a síndrome de Pollyana*, mudar para o outro lado do muro. Sim, sou dessas, caro leitor, que sorrio e sou gentil sinceramente. Quando gosto de algo ou de alguém, demonstro. Quando não gosto, não destrato nem ignoro, mas também não me aproximo. Sou sincera. O meu andar, o meu agir, a minha forma de muito gesticular enquanto falo (como uma boa descendente de italianos!), as minhas escolhas lexicais, a minha maneira de vestir, tudo, exatamente tudo revela a minha essência. E das pessoas que pertencem ao outro lado do muro, eu nada sei, nada compreendo, exatamente porque elas são assim: usam inúmeras máscaras e como perfeitos atores de teatro, perambulam pelo mundo afora manipulando e de forma hipócrita, isso mesmo, de forma hipócrita sempre conseguem o que querem.
.....Talvez, para que eu não me sinta tão mal, ironicamente, eu devesse pular o muro. Pelo menos para teste. E conferir se, finalmente, serei ouvida. E sendo ouvida, que seja também compreendida, mesmo que o que eu esteja falando seja pura mentira e fingimento.
.....Essa angústia, leitores, essa angústia que sinto por não conseguir compreender as razões desse primeiro ato (primeiro para mim, pois, provavelmente muitos outros atos já haviam sido encenados antes das cortinas subirem), essa sim é algo que posso chamar de inefável. Um inefável ressentido…


.....Vou parar de escrever, pois a primavera já se foi (porque ela é obrigada a ser sempre “ida”!) e o outono chegou… Não gosto de escrever quando é outono. Gosto apenas de sentar à janela e observar as folhas secas das árvores caindo… Porque quando elas caem, somente quando caem, são merecedoras da minha desilusão.

Tudo lhe era possível

.
.
(...).
- E de repente, ela descobriu que era possível.
- O que era possível?
- Tudo lhe era possível.
- A vida lhe era possível?
- Tudo lhe era possível. A vida, a morte, os sonhos, o amor…
- O amor também lhe era possível?
- Sim, e porque não?
- E as cicatrizes da vida que a tornaram cética?
- Apagaram-se com o soprar do vento.
- E os assuntos mal-resolvidos do passado?
- O soprar do vento também virou essa página. O que não tem solução, solucionado está.
- Mas… e o medo?
- Ela supera. Quando se quer muito alguma coisa, vale a pena correr o risco.
- E a timidez, ela se livrou?
- Não, a aceitou. Talvez a timidez seja o seu mistério, o seu charme…
- E o que ela fez com o ceticismo, jogou no lixo?
- Ela prefere acreditar em algo e estar errada a não acreditar em coisa alguma.
- E o que fez com que ela acreditasse que tudo lhe era possível?
- O seu coração foi preenchido por palavras de sabedoria.
- E quais palavras foram essas?
- As palavras de sabedoria.
- Sabedoria de quem? De Deus? De Jesus Cristo? De Buda? De Bono Vox?
- As palavras do vento que soprou.
- E o que foi que o vento falou?
- Que tudo lhe era possível.


Em busca do Inefável

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vvv vvv


O que significa “inefável”? O que é o inefável?
Segundo o dicionário Houaiss, “algo que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; algo indizível, indescritível, ou algo que causa imenso prazer, que seja inebriante, delicioso, encantador(…)”.

Pergunto-me novamente, o que é inefável? O que pode ser inefável em tempos modernos, nos quais, tantas coisas já se foram escritas, traduzidas, adaptadas para o cinema, entrado como pauta em debates filosóficos…? O que pode ser inefável quando tudo parece já ter sido vivido, sentido, apreciado?

Mais uma vez, o que é inefável?
Estou em busca de algo, uma palavra, um acontecimento, uma pessoa, uma experiência, que sejam inefáveis.

Serei eu inefável?
Como saberei se pouco conheço sobre esta palavra? E pouco conheço sobre mim.
Penso que não sou inefável… Mas tenho certeza que a minha alma o é.

O que é inefável? Seria algo ligado ao sentido de plenitude, completude? O que está me faltando? O que me falta para descobrir o que é inefável?

Ou seria o sentir? O sentir que é o inefável?
A definição de sentir no dicionário é tão abrangente que eu não saberia discernir… Será que sentir é como quando suspiramos o toque da mão da pessoa que amamos? Não é como um toque qualquer, de amigo, de irmão… É diferente. Ou será que sentir é apenas uma forma de perceber, apreciar as coisas?

Será o amor inefável? Aliás, o que é o amor? E como sabemos quando de fato é amor?

Será o inefável uma pessoa? Alguém o (a) conhece? Como seria o senhor inefável? Imagino que não teria rosto… mas que sua presença me faria sentir algo… não sei… inefável?

Continuo com a minha indagação. Quero descobrir, e mais, sentir o que é inefável!

Estou à busca de algo, objeto, palavra, acontecimento, pessoa, lugar, experiência, sentimento, que seja inefável.

Se alguém souber e/ou conhecer, por favor, compartilhe?

Apresentação

Em busca do Inefável



Textos, relatos, crônicas, cartas, poemas, desabafos, representações, imagens, diálogos e reflexões sobre tudo quanto possa existir originário da essência da vida. Franca expressão e manifestação de sentimentos e pensamentos íntimos. Uma tentativa de decifrar aquilo que há de mais belo na existência humana, o inefável. Ele nada mais é que incompreensível, indescritível, indizível.






“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada”. (Clarice Lispector)










Blog atualizado semanalmente.
Autoria de Srta. Inefável*


































*Fábia Zuanetti é jornalista, escritora e apresentadora de TV. Atualmente, trabalha na Editora Abril. Escreveu para a seção Vitrine Viva do Jornal Correio Paulistano e foi editora-chefe do informativo Palavras de Plenitude. Foi selecionada para a 27ª edição do Curso Abril de Jornalismo.
É criadora do blog Em busca do Inefável.