8.10.07

Escrito em outra estação

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Um recado aos leitores:
Para os que me fazem companhia na constante busca do inefável, apresento a coluna “Escrito em outra estação”. São textos que outrora foram guardados no fundo de uma gaveta, mas que foram resgatados por ilustrarem alguma fase da minha vida. O texto de estréia não poderia ser outro. Já não representa o meu momento presente, pelo contrário – está bem distante, mas foi um dos meus raros momentos de “quase” contato com o inefável.


É o que não é - e ponto final.


.....É inefável, de fato. Sem explicação. Não é amor, como também não é descaso. É respeito, é afeto, como também desentendimentos e discussões. É uma vontade de ficar ouvindo sem parar, mesmo que esteja sendo proferidas palavras tão tolas! É uma discórdia irritante. É uma vontade de fazer logo as pazes porque não se consegue ficar longe.
.....É um vício em muitos dos sentidos que esta palavra nos faz pensar… É uma inclinação para o mal. Um contato transformado em hábito por acontecer quase todos os dias. É um ódio que se inflama e que rapidamente se dissipa.
.....É um olhar, uma vontade de estar junto mesmo sabendo que não se pode estar. E por que não se pode estar junto? Não há motivos, oras, apenas não se pode estar junto… É escondido. É secreto. Não é escondido. Não é secreto. Simplesmente, não o é.
.....É apenas diferente. Não, não… é igual a todos. É um Vinicius de Moraes contra um Mário Quintana. É um texto complexo, denso, contraditório. É um discurso vazio, seco e frio… e que me preenche. É o que me faltava, mas que dispenso… É do avesso, é estranho. Não faz sentido, mas está certo. É mundano sem ser imundo.
.....Há uma agudeza de espírito. Uma sutileza de raciocínio e de argumentação. É algo que me impede de fazer, mas não me impede de pensar… Afinal, por que eu insisto tanto em tentar descrever algo indescritível, indizível? Por que insisto tanto se a minha intenção era “definir” e só o que consegui fazer com o meu texto acima foi limitar a extensão dessa existência?
.....Chega, cansei, desisti.

.....Como é aquele conselho de Clarice Lispector mesmo? Ah, sim: “Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

.....Eu percebi – e senti – um pedacinho do inefável. Mas (meu Deus!), por que não consigo fechar o livro e ir viver?!

Um comentário:

Silvia Helena & Fábio Pereira disse...

Texto forte! "É o que me faltava, mas que dispenso..." Fortíssimo! Diria que quase tão forte quanto seu braço esquerdo [como boa canhota] em uma grande disputa de braço de ferro.

Ah! É importante de se dizer: eu não sei o que você faz antes ou durante a sua escrita, mas esse "algo" faz você provocar os sentidos do leitor. Talvez você faça algo, talvem nem faça... Mas seja o que for, continue fazendo ou não fazendo. Está dando muito certo.

Eu sou escritor mediano, ainda aprendiz, mas sou leitor exigente. E só gosto de texto que me provoque os sentidos. Gostos dos seus textos - e ponto final :)