13.7.09

Estive pensando...

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Para gostar, basta entender
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Sei que após a morte do ícone Michael Jackson, o contexto pede que se debata o gênero de música pop, porém eu gostaria de compartilhar uma experiência diferente.
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.....Sempre tive curiosidade por músicas ditas “clássicas”. Confesso que nem sempre foi o gênero que tocava no meu discman (sou do tempo do walkman – fita - e do discman – cd’s. O aparelho mp3 surgiu bem depois). Mas a curiosidade e a vontade de apreciar estavam ali, sempre me rondando como bons fantasmas.
.....Algumas vezes, ainda muito jovem, eu me atrevia em sintonizar nas estações de rádio que tocam músicas deste gênero. Eu ouvia, e gostava, mas não conseguia ficar durante muito tempo. Eu reconhecia a beleza da sonoridade, porém, não entendia o porquê de serem assim e minha mente vagava para outros universos.
.....Eu me lembrava das aulas de matemática, estatística e geometria... disciplinas que sempre tive dificuldade em aprender. Quanto mais eu não entendia, mais me distanciava. Senti que com a música clássica era assim. Eu queria apreciá-la, porém não a entendia para conseguir tal feito.
.....Tentar entender música clássica por si só – pelo menos para mim – é muito mais difícil do que tentar entender música rap. O gênero rap nunca fez parte das minhas preferências, mas para mim era completamente natural ficar na frente da televisão assistindo aos clipes do Eminem na MTV. Poderia não fazer parte da minha realidade nem dos meus gostos, porém eu conhecia um pouco da história deste cantor e entendia os porquês das letras agressivas. E conseguia até identificar a genialidade por trás da construção de seu trabalho.
.....Há algumas semanas, a Editora Abril lançou uma coleção de músicas clássicas. Saber disso não me empolgaria tanto se eu não visse que cada volume vem com um livro contando a história do compositor, suas obras e um Guia de Audição (!) para ir lendo enquanto você ouve as composições. Eu não acreditei que isso seria possível, mas fiquei realmente surpresa quando consegui entender cada trecho do que tocava e perceber o que o artista queria passar com cada sinfonia.
.....Como exemplo, segue um trecho do Guia de Audição do volume 2 da coleção. O comentário é sobre a obra "Abertura 1812, Opus 49", de Piotr Illitch Tchaikovsky.
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00’00” Violoncelos e violas solistas apresentam de forma plangente o hino ortodoxo Deus Salva o Teu Povo.
02’07” Após uma breve passagem em fortíssimo (termo derivado do italiano usado para indicar a intensidade do som), o oboé (instrumento de sopro, com palheta dupla e tubo cônico) apresenta uma segunda idéia (forma) musical, respondida pelos violoncelos e contrabaixos. Esses elementos irão se intensificar com a gradual inserção dos demais instrumentos.
03’07” Metais começam a evocar o caráter militar da música, com ritmos marcantes e precisos.
03’55” Aparição do tema das forças russas, com franca inspiração militar, é apresentado pelas trompas e madeiras, acompanhados pela rítmica do tambor militar.
04’51” Inicia-se uma seção imitativa, no qual um novo tema (forma musical), apresentado primeiramente pelos violinos, torna-se cada vez mais tenso.
05’34” A iminência do ataque napoleônico é evidenciada pela aparição do hino francês, A Marselhesa, nos metais.
06’59” Novo tema, associado à esperança, surge primeiro nas cordas e depois nas madeiras.
(...)
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.....O volume número 1 da coleção vem com as obras de Beethoven. Achei interessante ler sobre sua vida, saber que não parou de produzir mesmo depois de perder a audição. Mas sua obra tem um “quê” de melancólico, dramático. Diria até sombrio… Ao mesmo tempo em que reconhecia sua grandiosidade, eu ficava triste ao ouvi-la. Já Tchaikovsky me deixou encantada. Dá pra perceber uma “montanha-russa de emoções”, como o próprio guia brinca, em suas composições. Não é à toa que escreveu para as peças teatrais Romeu e Julieta e O lago dos Cisnes. Valeu realmente a pena ler e ouvir.
.....Nos próximos volumes, vou ouvir Mozart e Vivaldi. Tenho certeza que vou continuar me surpreendendo. Sempre é muito bom (um sentimento inefável) desvendar universos antes tão desconhecidos, saber que este mundo já viveu bastante e que muito se criou e realizou nele.
.....Nunca é demais aprender. Como diz Alice Cruz, uma das minhas “chefas” no local onde trabalho, “conhecimento não ocupa espaço”.
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(imagem Music, de Basilyskos, em seu álbum no Flickr - trabalho interessante, vale conferir!)

12 comentários:

Fábio Pereira disse...

Todo blog é mesmo um pedacinho de seu dono. Esta fase do blog em Em busca do Inefável é mesmo a fase atual de sua dona, a Fábia Zuanetti.

A fase da Fábia atual é: mais ousadia, mais coragem, mais vontade, mais busca. E o blog apresenta tudo isso também.

Monteiro Lobato, certa vez, afimrou que um país era feito de homens e livros. E eu sempre me perguntava: E os homens são feitos de quê?

A Fábia, a Sra. IneFFável (como eu gosto de escrever seu pseudônimo), é feita de sonhos. Os mais lindos. Os mais ousados e mais corajosos sonhos.

Este blog, reformulado, mais bonito do que nunca e com textos tãos bons, não me deixam mentir.

Fábio Pereira

Fábio Pereira disse...

Uma correção na concordância verbal do comentário anterior...

''Este blog, reformulado, mais bonito do que nunca e com textos tãos bons, não me deixa mentir.''

Andreia Alves disse...

Olá Fabiana! Adorei teu texto me sinto exatamente igual ao que diz respeito a música clássica. Depois que assiste ao filme Minha Amada Imortal, que conta a história de amor de Beethoven e Amadeus história de Mozart, passei a gostar mais de música clássica, mas nem por isto a entendê-la. Assim que der vou comprar esta coleção, obrigada pela dica.
Beijos querida...

Fabi disse...

Xará, vc escreve muito bem!!! Logo, logo vai arrasar nas revistas da casa, hehehheh...

Um grande beijo e já está nos meus favoritos,
Fabi

Fábia Zuanetti disse...

Obrigada, meninas, pelos comentários! Espero vê-las sempre por aqui.
Só uma coisinha: meu nome não é Fabiana... hehehe, é Fábia.
Um pouco incomum, mas vocês acostumam.

Beijões!

Iobaf´ disse...

Olá, fabinha, seu pedido é uma ordem! Ainda mais quando se trata de música, minha cara.
Adorei o conteúdo informativo do seu texto e, claro, o jeito como o escreveu.
Quanto a Tchaikovsky, confesso que conheço pouco, mas depois de seu incentivo, pretendo mudar esse quadro! ;o)
Espero que Chopin te toque 1/3 do que me toca. Assim poderei aprender um pouco mais sobre esse refinado pianista. Você já deve te ouvido a marcha fúnebre, certo? Pois é, vc encontra Chopin em filmes como "O Pianista" e "O Show de Truman", assim como em Chapolin. Sim, o vermelhinho. Hehe! E, se eu não me engano, o próprio Bolanõs (Chapolin e Chaves) faz o papel do genial pianista em um dos episódios da série.

Unknown disse...

Amei o texto, confesso que "via" ou melhor, ouvia música clássica com pouca frequência justamente por isso, falta compreensão.
Nossa cultura não ajuda em nada, alias os modelos são os de sempre (Pão e Vinho para poucos) e (Pão e Circo para a massa= maioria)...pena.
Fiquei interessada nesses exemplares que a Abril lançou.
Beijão (Ivy)

Fábia Zuanetti disse...

Olá, Ivy.
Obrigada pela visita.
Se ficar curiosa, pode pegar mais informações sobre a Coleção neste link:
http://colecoes.abril.com.br/

Beijos!
Srta. Inefável

Marta Medeiros disse...

Oi, Fábia, tudo bem?

Li o que vc escreveu no blog sobre Música Clássica e li também outros post´s.

Escrevo para parabenizá-la pela escrita concisa, coesa, coerente e elegante. Um texto como o seu é difícil de ser encontrado!

Sou formada em Letras e é praticamente impossível ler um texto sem esse olhar de professora.

Realmente seu blog me encantou! Já adicionei aos meus favoritos e ouso conferi-lo constantemente.
Sem dúvida, encontrarei boas indicações visto que você dá referências de ser uma leitora voraz!

Parabéns!

Um beijo!

Anônimo disse...

Adorei!
Eu gosto muito de música clássica, nunca me aprofundei em conhecer as histórias, mas agora me despertou uma curiosidade também! Tem uma música que adoro, acho que é do Beethoven, chama Claire de Lune, é linda, melancólica, vale a pena!
Vou atrás de conhecer mais sobre os gênios da música clássica!

Beijinhos!
MaFê...

Evelyn Jardim disse...

Fá, eu só lamento, de verdade, de não entender absolutamente nada de música clássica e de não ter um vocabulário cultural tão vasto, porque da forma que você colocou o que leu ao escutar a música daria para ouvir em pensamento o trecho desta obra sem nem ao menos nunca ter escutado a melodia.
Parabéns Fábia pela preocupação em nos passar isso, você realmente é completa de coragem e conteúdo. Seu blog está a sua cara, como disse o Fábio, ele passa responsabilidade, equilíbrio, sanidade, limpeza e democracia. Sou sua fãn!
Beijos Evelyn Jardim

Anônimo disse...

Hello, my dear FFá!
=)

Meu dilema... é algo que posso te contar sim, assim que te encontrar no MSN, ou te mando um e-mail!

Beijoos!!